Mais um ano encontra-se à beira do fim, mais um ano encontra-se à beira do início. É costume as pessoas reflectirem sobre os acontecimentos mais marcantes dos últimos doze meses e tentarem prever o que acontecerá nos próximos doze. No que toca à Selecção Nacional, depois de um ano de 2010 muito atribulado, 2011 foi um ano incomparavelmente mais calmo. Sobretudo por não ter ocorrido nenhum caso tão grave como aquele que levou ao despedimento de Carlos Queiroz. Também seria difícil e menos provável que ocorresse um caso com essa gravidade este ano, em que não houve fase final de um campeonato de Selecções, estivemos quase meio ano sem jogos oficiais e, mesmo estes, foram apenas meia dúzia (contando com o playoff, que nem sequer fazia parte do plano inicial).
A Selecção entrou em 2011 em alta, derivada do relançamento na disputa pela Qualificação para o Europeu de 2012 e de uma inesperada goleada à Espanha num particular, e manteve-se assim durante a maior parte do ano. O público parecia ter feito as pazes com a Turma das Quinas, o ambiente parecia estar bom no seio da equipa, havia consenso, ninguém tinha nada de muito importante a criticar. Isso era bom, sem dúvida, mas era algo monótono. Se derem uma vista de olhos às minhas entradas (ou simplesmente aos títulos destas) hão de verificar que estas andavam quase todas à roda do mesmo: "A Selecção está muito bem, é a única coisa que está bem neste País". As coisas apenas começaram a descarrilar em Setembro, com a deserção de Ricardo Carvalho e à medida que se aproximava a recta final do apuramento (não sei se estes acontecimentos, bem como aquilo que se passou com José Bosingwa, estão relacionados ou se é apenas coincidência). Em todo o caso, após a brilhante segunda mão do playoff, a Selecção encerra o ano de 2011 mais ou menos da mesma maneira como o inaugurou: em alta, cheia de promessas de mais bons momentos a curto e médio prazo, apesar dos adversários dos próximos jogos oficiais.
O particular com a Argentina, realizado dia 9 de Fevereiro no Estádio de Genebra na Suíça, foi o primeiro compromisso da Selecção Portuguesa do ano. Este desafio encontrava-se envolvido em expectativa, não só devido ao anteriormente mencionado bom momento da equipa mas também - e sobretudo - uma vez que este particular oporia Cristiano Ronaldo e Lionel Messi - por muitos considerados os melhores jogadores de futebol da actualidade. Foi por causa desde duelo que os bilhetes para o jogo se esgotaram e que oitenta televisões em todo o Mundo compraram os direitos de transmissão.
O jogo, que terminou com 2-1 a favor da selecção alviceleste, foi bastante equilibrado. Os dois primeiros golos, um para cada lado, foram marcados na primeira meia hora de jogo. O tento português foi executado por Cristiano Ronaldo. Foi o primeiro de muitos golos, não apenas de Ronaldo ao serviço da Selecção, mas também da própria Equipa de Todos Nós. A substituição do madeirense, aproximadamente aos sessenta minutos de jogo, foi demasiado precoce para a assistência, atraída para o jogo pelo duelo entre os dois melhores do Mundo.
Mas voltando ao jogo em si, este foi muito equilibrado, tal como foi mencionado acima. O ritmo manteve-se quase sempre elevado. O segundo golo marcado pela Argentina resultou de um penálti, um pormenor convertido em pormaior por Messi, em cima do minuto noventa, numa altura em que "ambas as equipas já estavam conformadas com a igualdade" no marcador.
No que toca ao duelo entre Ronaldo e Messi, este último foi o vencedor mas só por falta de comparência do adversário. No que toca à Selecção num todo, este jogo foi testemunha da capacidade da Turma das Quinas de enfrentar qualquer adversário como igual, não maculando, deste modo, o comando de Paulo Bento.
No entanto, terá sido aquando da preparação deste encontrou que terá ocorrido o primeiro capítulo do desentendimento entre o Seleccionador e José Bosingwa - isso sim, maculou o comando de Paulo Bento, ainda que só tenha vindo a lume vários meses depois. Ainda não percebi ao certo o que se passou. A versão que corre - mas não sei se é a verdadeira - é a de que Bosingwa não terá gostado da hipótese de ser suplente e, em represália, terá simulado uma lesão para abandonar o estágio.
Provavelmente, nunca se saberá ao certo o que de facto aconteceu. A única coisa acerca da qual existem certezas quase absolutas é de que, tão cedo, Bosingwa não voltará à Selecção - e isso para mim é o mais importante, o pior. Mas, tal como já mencionei anteriormente, só o soubemos muito depois de Fevereiro, depois de Bosingwa ter sido repetidamente sido deixado de fora das Convocatórias.
Em finais de Março, realizaram-se mais dois jogos de carácter preparatório: um contra o Chile, no dia 26, outro contra a Finlândia, no dia 29. O primeiro terminou empatado a um golo. Não assisti a este jogo, nem sequer pela rádio, como tal, não sei dizer como é que Portugal jogou. Em todo o caso, ninguém atribuiu grande importância a este encontro devido às eleições no Sporting, entre outros factores.
Um dos quais o desafio que opôs a Dinarmarca à Noruega, que terminou empatado a um golo e nos deu o poder de chegarmos ao primeiro lugar do grupo por nós próprios.
O encontrou com a Finlândia foi diferente. Tratava-se de uma selecção nórdica, semelhante à Noruega, que seria a nossa adversária seguinte na Qualificação para o Euro 2012. Como tal, o desempenho da Selecção foi diferente, acima da média em particulares. Destaque para os dois golos do estreante Rúben Micael. Há que dizer, no entanto, que a Finlândia não fez muito pela vida. Apesar de talvez ser essa a intenção, o jogo não foi um verdadeiro ensaio geral para o desafio frente à Noruega - dificilmente os nossos amigos noruegueses, com quem havíamos perdido da última vez que estivéramos em campo com eles, nos facilitariam a vida daquela maneira. Em todo o caso, a vitória foi mais um sinal de que a Selecção estava bem e recomendava-se. Em vários aspectos.
O embate com a Noruega, a contar para a Qualificação para o Europeu de 2012, realizou-se a 4 de Junho - oito meses após o último jogo oficial - no Estádio da Luz. Paulo Bento classificou-o como um jogo "extremamente importante, de grande responsabilidade" pois, se vencêssemos, subiríamos para o primeiro lugar do grupo. Não decidia o Apuramento, mas ajudava muito. Nesse aspecto, os noruegueses estavam menos apertados do que nós, pois, para manterem o primeiro lugar, bastava-lhes perder pela margem mínima, desde que marcassem na Luz. Com a agravante de os noruegueses nos terem vencido da última vez que entráramos em campo com eles.
A Selecção dispôs, nessa altura, do maior intervalo de tempo seguido de estágio antes de um encontro desde o início da Qualificação. Eu própria fui assistir a um dos vários treinos abertos que a Equipa de Todos Nós efectuou. Nas declarações à Comunicação Social, toda a Selecção, jogadores e treinador, aparentava estar em sintonia. Os Marmanjos afirmavam não terem medo da Noruega, apesar de a respeitarem como uma equipa que os derrotara recentemente. Afirmavam querer vencer, de modo a "podermos ir de férias descansados".
E foi o que, de facto, acabou por acontecer, Não foi um jogo brilhante, não houve domínio indiscutível por parte da Selecção Portuguesa, provavelmente devido ao desgaste típico do fim da época futebolística e, talvez, a alguma pressão. O único tento do jogo foi apontado por Hélder Postiga. Em todo o caso, a Selecção cumpriu o seu dever atingindo, desse modo, o topo da tabela classificativa.
Em Agosto, a Selecção disputou, no Estádio do Algarve, um jogo de carácter preparatório com o Luxemburgo. Supostamente esta selecção seria semelhante à cipriota, segundo Paulo Bento, mas tal era questionável. Dificilmente o Chipre, o nosso adversário seguinte, seria tão acessível. A preparação deste encontro incluiu dois treinos abertos e eu assisti a um deles, novamente no Jamor, à semelhança de mais umas oitocentas pessoas. O Seleccionador definiu como objectivos deste encontro levar o jogo a sério, vencer e não sofrer golos.
O encontro em si terminou com 5 - 0 no marcador. Tal como se previa, foi uma daquelas goleadas fáceis, sem suor, sem adrenalina, que dificilmente ficam na memória. No entanto, ao contrário do que acontecera em inúmeros particulares com Selecções teoricamente mais fracas, Portugal levou o jogo a sério e o nível nem sequer diminuiu com as substituições ao intervalo. Em suma, apesar da utilidade questionável deste jogo, os objectivos para ele definidos haviam sido alcançados.
Não pude assistir ao encontro com o Chipre, a contar para o apuramento, nem à respectiva preparação - durante a qual Ricardo Carvalho abandonou a Equipa de Todos Nós - visto encontrar-me de férias no estrangeiro. Tanto quanto percebi, terá sido em protesto contra a possibilidade de ser suplente, tudo isto com um cheirinho a vedetismo, a amuo de adolescente. Paulo Bento acusou-o de deserção e afirmou que nunca mais Convocaria o jogador. Dias depois, Ricardo deu uma entrevista em que, por sua vez, chamou "mercenário", contribuindo em nada para melhorar a sua imagem no meio disto tudo.
Mais tarde, o jogador afirmou-se arrependido por ter virado as costas à Selecção desta forma e manifestou o desejo de voltar a vestir a camisola das Quinas. Nesse aspecto, distingue-se de José Bosingwa, que nunca deu sinais de arrependimento pelas atitudes que tomou. Mas não é suficiente visto que, tanto quanto sei Ricardo Carvalho nunca apresentou um pedido de desculpas directamente, nem a Paulo Bento, nem à Federação. No meio disto tudo, acho ridículo que pessoas como Joaquim Envagelista estejam a pressionar o Seleccionador a aceitar os jogadores de volta. Se eu fosse ao Paulo Bento, ficaria irritada por tanta gente questionar as minhas decisões. Foram o Bosingwa e o Ricardo que tomaram as atitudes, que se excluíram a si próprios directa ou indirectamente. Se eles quiserem voltar à Selecção, o primeiro passo terá de partir deles. E, embora saiba que é improvável, espero que as várias partes consigam chegar a um entendimento e que ambos os jogadores voltem a vestir a camisola das Quinas com Paulo Bento no comando.
Em todo o caso, o capitão da Equipa de Todos Nós, Cristiano Ronaldo, veio a público dizer, poucos dias após a deserção de Ricardo Carvalho, que "tudo o que se passou está ultrapassado, o mister Paulo Bento já falou, o que pensamos fica dentro do grupo", acrescentando mesmo que ele também tinha telhados de vidro no que tocava a decisões pouco sensatas.
Esta declaração foi feita após o duelo com o Chipre, duelo esse que a Selecção Portuguesa levou de vencida por quatro golos sem resposta. Já referi antes que não pude assistir a este encontro. Parece que durante a maior parte do encontro, a Selecção esteve em vantagem pela margem mínima, precária, com todo o nervosismo associado a tais circunstâncias, fazendo uma exibição que deixou bastante a desejar. Contudo, os três golos na recta final do jogo devem ter sabido muito bem. Cristiano Ronaldo desempenhou muito bem o seu papel de capitão da Equipa de Todos Nós, parece que fez uma bela prestação em campo, com dois golos e uma assistência, terá mesmo carregado a equipa às costas. Isto num ambiente particularmente hostil para o madeirense, com os adeptos cipriotas gritando por Messi, criando, salvo erro, uma moda que se estendeu aos restantes jogos da fase de Qualificação. No entanto, pelo menos neste jogo, acabou por lhes sair o tiro pela culatra.
Um mês mais tarde, realizou-se a dupla jornada final da fase de Qualificação. Faltava-nos receber a Islândia e deslocarmo-nos a Copenhaga para enfrentarmos a selecção local antes de darmos o Apuramento por concluído. As nossas condições não eram as ideais, devido a várias ausências por lesão de titulares habituais (Pepe, Hugo Almeida, Fábio Coentrão). A esta lista, juntou-se Danny, pois este teve de ser submetido a uma cirurgia para remover um quisto sebáceo.
A urgência questionável de tal intervenção, aliada às suspeitas que se começavam a formar devido às repetidas ausências do nome de Bosingwa das listas de Convocados, mais, provavelmente, a tensão derivada à proximidade do fim do Apuramento abriram uma brecha na credibilidade do Seleccionador. A Comunicação Social enfiou-se dentro dela e os ataques começaram. De uma forma injusta, na minha opinião, tendo em conta o percurso de Paulo Bento como Seleccionador até à altura.
Conforme foi repetido até à exaustão, bastava um empate e uma vitória para nos qualificarmos directamente, embora na Selecção dissessem que não viam as coisas desta maneira, que encaravam um jogo de cada vez, que não jogavam para o empate. E não se pode dizer que os Marmanjos não juntaram o gesto à palavra no Estádio do Dragão uma vez que venceram os Islandeses por cinco bolas contra três. Contudo, o jogo não foi tão fácil como o que seria de esperar. Os islandeses entraram em campo invulgarmente desenvoltos, descongelados, soltos, como que querendo desafiar o estereótipo da equipa teoricamente mais fraca. Inicialmente, Portugal não se deixou afectar, conseguiu colocar-se três golos à frente dos islandeses, mas estes não demoraram muito a reduzir a desvantagem a apenas um golo, ficando muito perto de anulá-la por completo. Felizmente, o golo de Moutinho, seguido de Eliseu, aliviaram a intranquilidade que se tinha instalado com o seguindo golo da Islândia.
Apesar da vitória, a Selecção Nacional revelara algumas fraquezas. O ideal teria sido que o jogo tivesse servido de aviso, de wake-up call.
Mas não serviu.
Com esta vitória, a Equipa de Todos Nós dava mais um passo em direcção ao Europeu. Agora bastava um empate frente à Dinamarca para reservarmos logo um lugar na Polónia e na Ucrânia. E até podíamos perder em Copenhaga e qualificarmo-nos à mesma, desde que fôssemos a melhor Selecção em segundo lugar - a única que nos ameaçava era a Suécia. Esta ideia, repetida até à exaustão, irritou-me na altura, pois julgava que Portugal não precisaria de fazer tais contas. Agora, vendo em retrospectiva, a ideia ainda me irrita mais pois não nos serviu de nada.
A derrota de Portugal aos pés da Dinamarca constituiu, sem sombra de dúvida, o ponto mais baixo do ano. Foi provavelmente um dos piores jogos da Selecção dos últimos tempos, agonizante, em que o único ponto alto do jogo foi o golo excepcional de Cristiano Ronaldo. Ainda hoje não percebo o que aconteceu nessa noite para os Marmanjos jogarem tão mal. A era Paulo Bento, que até à altura, estivera quase imaculada, via a sua primeira derrota em jogos oficiais e a Selecção Nacional era relegada para os play-offs pois o jogo da Suécia - que, para animar ainda mais a noite, fora rico em reviravoltas - terminara com uma vitória para o seu lado, tornando-os a melhor equipa classificada em segundo lugar.
Na altura, acabei por dar graças por a Suécia se ter qualificado em vez de nós, pois não queria que a caminhada em direcção ao Europeu terminasse daquela forma. E agora que já sei qual foi o desfecho deste capítulo, ainda abençoo mais essa reviravolta do destino.
Pouco após o jogo com a Dinamarca, soubemos que, daí a um mês, disputaríamos o play-off contra a Bósnia-Herzegovina, selecção que já se havia cruzado no nosso caminho para o Mundial 2010, dois anos antes. Muita gente recomendava prudência uma vez que a equipa bósnia tinha melhorado significativamente ao longo dos últimos dois anos e, conforme o médio bósnio Zvjedzan Misimovic assinalou, Portugal tivera, teoricamente, condições para já ter o apuramento resolvido mas teve de ir aos play-offs. No entanto, a Turma das Quinas também havia crescido, sobretudo no último ano, e Paulo Bento chegou mesmo a dizer: "Não vou desconfiar de quem durante um ano e picos fez tudo o que devia e, por um jogo, pôr tudo em causa".
A preparação dos play-offs foi marcada pelo regresso de habituais titulares que haviam estado indisponíveis na última jornada dupla e ensombrada pela entrevista de José Bosingwa ao jornal "O Jogo". Como seria de prever, a Comunicação Social alimentou-se das polémicas declarações do jogador mas, aparentemente, estas não tiveram grande repercussão no seio da Equipa de Todos Nós.
A primeira mão do play-off foi disputada em Zenica, terreno bósnio, em condições bastante adversas para a Equipa das Quinas. Começando pelo relvado de péssima qualidade. A Federação Portuguesa de Futebol apelara para a UEFA, tentando fazê-los mudar a localização do jogo, mas os responsáveis fizeram ouvidos de mercador. Para cúmulo, os dirigentes bósnios ignoraram o acordo selado na manhã do dia da primeira mão e regaram o campo, pouco antes do início do jogo, piorando ainda mais o seu estado. Tal motivou a Selecção a jogar sob protesto.
Outro obstáculo que a Equipa de Todos Nós teve de enfrentar foram os adeptos bósnios pouco amigáveis, que tentaram desestabilizar a Selecção Portuguesa e, em particular, o capitão Cristiano Ronaldo, com lasers e gritos por Messi.
A primeira mão do play-off terminou com o marcador por abrir. O resultado desapontou mas a exibição da Equipa das Quinas não. O domínio do jogo foi claramente português, falou-se de "espírito guerreiro", "personalidade fortíssima". Terá literalmente sido o campo (que foi apelidado de horta, batatal, pseudo-relvado, Farmville, etc) a impedir a vitória da Selecção Portuguesa. Em todo o caso, ficaram boas promessas para a segunda mão, que se realizaria no Estádio da Luz, daí a quatro dias.
Promessas essas que foram cumpridas, e muito bem cumpridas, naquele que foi o ponto mais alto do ano, ou mesmo de toda a Qualificação. Nesse Portugal recebeu e venceu na Luz a Bósnia por seis golos espectaculares contra dois que não passaram de pormenores tornados pormaiores, num jogo épico (palavra muito na moda e demasiado vulgarizada, na minha opinião) e emocionante, que se assemelhou a um resumo de toda a caminhada em direcção à fase final do Euro 2012, com todos os momentos de brilho, de garra, juntamente com os momentos menos bons e as inesperadas escorregadelas, antes de apresentar o desfecho da história. Que não podia ser mais feliz. O Hino Nacional entoado a plenos pulmões por todo o Estádio encerrou a caminhada, encerrou um jogo que teve todas as características de uma grande final. Um jogo que representou uma desforra contra um caso envolvendo um antigo Seleccionador de fraco carácter, dirigentes corruptos, em Portugal e no estrangeiro, jogadores desertores, notícias desestabilizadoras, relvados manhosos, lasers, adeptos hostis, árbitros pouco parciais. Uma desforra contra a crise que assola o País já ninguém sabe desde quando, contra os cortes impostos pelo Orçamento e pela Troika (bem menos simpática do que a Troika de ataque que empurrou a Selecção para a frente), contra os juros da dívida que, se não estou em erro, já roçam os vinte por cento, contra políticos corruptos e incapazes, contra os sacrifícios que parecem nunca mais acabar, contra o desemprego, contra a depressão, contra o desânimo. Um jogo que selou o apuramento e o renascimento da Selecção Nacional.
No dia 2 de Dezembro, realizou-se o sorteio da fase de grupos do Euro 2012 e Portugal ficou a conhecer os seus futuros adversários: serão eles a Dinamarca, a Holanda e a Alemanha. Dificilmente nos poderia ter calhado um grupo mais difícil. Podemos ver tanto este resultado como outro qualquer como uma coisa boa ou má, dependendo da maneira como o encararmos. Contudo, uma coisa é certa: aguardam-nos jogos verdadeiramente emocionantes, que ficarão para a História, independentemente do desfecho final.
Foi isto que aconteceu de mais relevante à Selecção Nacional ao longo de 2011. Em suma, foi um ano muito positivo em termos futebolísticos, não só por a Equipa das Quinas se ter qualificado para o Europeu do próximo ano, mas também por causa da Liga Europa, em que três equipas portuguesas chegaram às meias-finais, duas chegaram à final e, como é óbvio, uma delas levou o troféu para casa.
Em termos políticos, financeiros e sócio-económicos, 2011 foi um ano para esquecer, com o governo a demitir-se, a chegada da Troika, a ameaça da queda do Euro, entre outras desgraças. E a situação não parece estar perto de melhorar, sobretudo porque já sabemos que em 2012 nos esperam vários cortes e vida ainda mais difícil.
Em termos pessoas, tirando o contexto acima descrito, devo dizer que foi um dos melhores anos da minha vida, por várias razões. Muitos dos desejos e objectivos que tinha definido no início do ano cumpriram-se. Além disso, posso dizer com toda a segurança que evoluí ao longo do último ano, Tal evolução já havia começado em 2010 mas bem mais discretamente, a grande explosão deu-se este ano. Não sei dizer se me tornei uma pessoa melhor, mas, pelo menos, tornei-me um pouco mais corajosa, um pouco mais certa do que sou e do que quero. Dei vários passos em frente. O facto de ter ido ao Jamor assistir aos treinos da Selecção foi um deles, ainda que não o mais importante. Ainda não estou onde quero estar, ainda tenho um longo caminho a percorrer e tenciono continuar a percorrê-lo em 2012.
Olhando, então, para o próximo ano, no que toca à situação do País, já ninguém se atreve a pedir desejos, a ser optimista, depois de sofrermos desilusões atrás de desilusões. Estamos uma posição semelhante àquela onde nos encontrávamos no início de 2011. O ano que findava havia sido mau mas tudo indicava que o ano que começava seria ainda pior. No entanto, "não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe". Isto não pode durar para sempre, terá de existir uma altura em que isto comece a melhorar! Já andamos em crise há demasiado tempo, já chega!
Existe outra coisa em comum com o início de 2011 e o início de 2012: o facto de o futebol, em particular a Selecção, ser a única coisa que funciona bem neste País, a única coisa a que nos podemos agarrar, a única coisa que nos dá boas promessas para 2012. Quer a Selecção chegue à final de Kiev ou fique pela fase de grupos (que o Diabo seja cego, surdo, mudo e não tenha acesso à Internet...), aquelas semanas antes do Euro 2012 e pelo menos a primeira semana da fase final ninguém nos tirará. Nesse intervalo de tempo, os nossos pensamentos e, pelo menos, o meu coração estarão sediados na Polónia e na Ucrânia. Teremos algo que fugirá à rotina e que nos ajudará a suportar as dificuldades.
Quem me dera que outras coisas neste País funcionassem como funciona a Equipa de Todos Nós!
Para 2012 desejo, então, que sejamos campeões europeus. Que um clube português volte a ganhar um título europeu. Que o tal virar de maré de que falei acima ocorra no próximo ano. Que em 2012 vocês, leitores, tenham uma vida melhor, que evoluam, que consigam realizar os vossos sonhos, ou seja, que 2012 vos corra como 2011 correu a mim. E uso emprestada a foto da página do Facebook Sócio da Selecção para vos desejar...
O particular com a Argentina, realizado dia 9 de Fevereiro no Estádio de Genebra na Suíça, foi o primeiro compromisso da Selecção Portuguesa do ano. Este desafio encontrava-se envolvido em expectativa, não só devido ao anteriormente mencionado bom momento da equipa mas também - e sobretudo - uma vez que este particular oporia Cristiano Ronaldo e Lionel Messi - por muitos considerados os melhores jogadores de futebol da actualidade. Foi por causa desde duelo que os bilhetes para o jogo se esgotaram e que oitenta televisões em todo o Mundo compraram os direitos de transmissão.
O jogo, que terminou com 2-1 a favor da selecção alviceleste, foi bastante equilibrado. Os dois primeiros golos, um para cada lado, foram marcados na primeira meia hora de jogo. O tento português foi executado por Cristiano Ronaldo. Foi o primeiro de muitos golos, não apenas de Ronaldo ao serviço da Selecção, mas também da própria Equipa de Todos Nós. A substituição do madeirense, aproximadamente aos sessenta minutos de jogo, foi demasiado precoce para a assistência, atraída para o jogo pelo duelo entre os dois melhores do Mundo.
Mas voltando ao jogo em si, este foi muito equilibrado, tal como foi mencionado acima. O ritmo manteve-se quase sempre elevado. O segundo golo marcado pela Argentina resultou de um penálti, um pormenor convertido em pormaior por Messi, em cima do minuto noventa, numa altura em que "ambas as equipas já estavam conformadas com a igualdade" no marcador.
No que toca ao duelo entre Ronaldo e Messi, este último foi o vencedor mas só por falta de comparência do adversário. No que toca à Selecção num todo, este jogo foi testemunha da capacidade da Turma das Quinas de enfrentar qualquer adversário como igual, não maculando, deste modo, o comando de Paulo Bento.
No entanto, terá sido aquando da preparação deste encontrou que terá ocorrido o primeiro capítulo do desentendimento entre o Seleccionador e José Bosingwa - isso sim, maculou o comando de Paulo Bento, ainda que só tenha vindo a lume vários meses depois. Ainda não percebi ao certo o que se passou. A versão que corre - mas não sei se é a verdadeira - é a de que Bosingwa não terá gostado da hipótese de ser suplente e, em represália, terá simulado uma lesão para abandonar o estágio.
Provavelmente, nunca se saberá ao certo o que de facto aconteceu. A única coisa acerca da qual existem certezas quase absolutas é de que, tão cedo, Bosingwa não voltará à Selecção - e isso para mim é o mais importante, o pior. Mas, tal como já mencionei anteriormente, só o soubemos muito depois de Fevereiro, depois de Bosingwa ter sido repetidamente sido deixado de fora das Convocatórias.
Em finais de Março, realizaram-se mais dois jogos de carácter preparatório: um contra o Chile, no dia 26, outro contra a Finlândia, no dia 29. O primeiro terminou empatado a um golo. Não assisti a este jogo, nem sequer pela rádio, como tal, não sei dizer como é que Portugal jogou. Em todo o caso, ninguém atribuiu grande importância a este encontro devido às eleições no Sporting, entre outros factores.
Um dos quais o desafio que opôs a Dinarmarca à Noruega, que terminou empatado a um golo e nos deu o poder de chegarmos ao primeiro lugar do grupo por nós próprios.
O encontrou com a Finlândia foi diferente. Tratava-se de uma selecção nórdica, semelhante à Noruega, que seria a nossa adversária seguinte na Qualificação para o Euro 2012. Como tal, o desempenho da Selecção foi diferente, acima da média em particulares. Destaque para os dois golos do estreante Rúben Micael. Há que dizer, no entanto, que a Finlândia não fez muito pela vida. Apesar de talvez ser essa a intenção, o jogo não foi um verdadeiro ensaio geral para o desafio frente à Noruega - dificilmente os nossos amigos noruegueses, com quem havíamos perdido da última vez que estivéramos em campo com eles, nos facilitariam a vida daquela maneira. Em todo o caso, a vitória foi mais um sinal de que a Selecção estava bem e recomendava-se. Em vários aspectos.
O embate com a Noruega, a contar para a Qualificação para o Europeu de 2012, realizou-se a 4 de Junho - oito meses após o último jogo oficial - no Estádio da Luz. Paulo Bento classificou-o como um jogo "extremamente importante, de grande responsabilidade" pois, se vencêssemos, subiríamos para o primeiro lugar do grupo. Não decidia o Apuramento, mas ajudava muito. Nesse aspecto, os noruegueses estavam menos apertados do que nós, pois, para manterem o primeiro lugar, bastava-lhes perder pela margem mínima, desde que marcassem na Luz. Com a agravante de os noruegueses nos terem vencido da última vez que entráramos em campo com eles.
A Selecção dispôs, nessa altura, do maior intervalo de tempo seguido de estágio antes de um encontro desde o início da Qualificação. Eu própria fui assistir a um dos vários treinos abertos que a Equipa de Todos Nós efectuou. Nas declarações à Comunicação Social, toda a Selecção, jogadores e treinador, aparentava estar em sintonia. Os Marmanjos afirmavam não terem medo da Noruega, apesar de a respeitarem como uma equipa que os derrotara recentemente. Afirmavam querer vencer, de modo a "podermos ir de férias descansados".
E foi o que, de facto, acabou por acontecer, Não foi um jogo brilhante, não houve domínio indiscutível por parte da Selecção Portuguesa, provavelmente devido ao desgaste típico do fim da época futebolística e, talvez, a alguma pressão. O único tento do jogo foi apontado por Hélder Postiga. Em todo o caso, a Selecção cumpriu o seu dever atingindo, desse modo, o topo da tabela classificativa.
Em Agosto, a Selecção disputou, no Estádio do Algarve, um jogo de carácter preparatório com o Luxemburgo. Supostamente esta selecção seria semelhante à cipriota, segundo Paulo Bento, mas tal era questionável. Dificilmente o Chipre, o nosso adversário seguinte, seria tão acessível. A preparação deste encontro incluiu dois treinos abertos e eu assisti a um deles, novamente no Jamor, à semelhança de mais umas oitocentas pessoas. O Seleccionador definiu como objectivos deste encontro levar o jogo a sério, vencer e não sofrer golos.
O encontro em si terminou com 5 - 0 no marcador. Tal como se previa, foi uma daquelas goleadas fáceis, sem suor, sem adrenalina, que dificilmente ficam na memória. No entanto, ao contrário do que acontecera em inúmeros particulares com Selecções teoricamente mais fracas, Portugal levou o jogo a sério e o nível nem sequer diminuiu com as substituições ao intervalo. Em suma, apesar da utilidade questionável deste jogo, os objectivos para ele definidos haviam sido alcançados.
Não pude assistir ao encontro com o Chipre, a contar para o apuramento, nem à respectiva preparação - durante a qual Ricardo Carvalho abandonou a Equipa de Todos Nós - visto encontrar-me de férias no estrangeiro. Tanto quanto percebi, terá sido em protesto contra a possibilidade de ser suplente, tudo isto com um cheirinho a vedetismo, a amuo de adolescente. Paulo Bento acusou-o de deserção e afirmou que nunca mais Convocaria o jogador. Dias depois, Ricardo deu uma entrevista em que, por sua vez, chamou "mercenário", contribuindo em nada para melhorar a sua imagem no meio disto tudo.
Mais tarde, o jogador afirmou-se arrependido por ter virado as costas à Selecção desta forma e manifestou o desejo de voltar a vestir a camisola das Quinas. Nesse aspecto, distingue-se de José Bosingwa, que nunca deu sinais de arrependimento pelas atitudes que tomou. Mas não é suficiente visto que, tanto quanto sei Ricardo Carvalho nunca apresentou um pedido de desculpas directamente, nem a Paulo Bento, nem à Federação. No meio disto tudo, acho ridículo que pessoas como Joaquim Envagelista estejam a pressionar o Seleccionador a aceitar os jogadores de volta. Se eu fosse ao Paulo Bento, ficaria irritada por tanta gente questionar as minhas decisões. Foram o Bosingwa e o Ricardo que tomaram as atitudes, que se excluíram a si próprios directa ou indirectamente. Se eles quiserem voltar à Selecção, o primeiro passo terá de partir deles. E, embora saiba que é improvável, espero que as várias partes consigam chegar a um entendimento e que ambos os jogadores voltem a vestir a camisola das Quinas com Paulo Bento no comando.
Em todo o caso, o capitão da Equipa de Todos Nós, Cristiano Ronaldo, veio a público dizer, poucos dias após a deserção de Ricardo Carvalho, que "tudo o que se passou está ultrapassado, o mister Paulo Bento já falou, o que pensamos fica dentro do grupo", acrescentando mesmo que ele também tinha telhados de vidro no que tocava a decisões pouco sensatas.
Esta declaração foi feita após o duelo com o Chipre, duelo esse que a Selecção Portuguesa levou de vencida por quatro golos sem resposta. Já referi antes que não pude assistir a este encontro. Parece que durante a maior parte do encontro, a Selecção esteve em vantagem pela margem mínima, precária, com todo o nervosismo associado a tais circunstâncias, fazendo uma exibição que deixou bastante a desejar. Contudo, os três golos na recta final do jogo devem ter sabido muito bem. Cristiano Ronaldo desempenhou muito bem o seu papel de capitão da Equipa de Todos Nós, parece que fez uma bela prestação em campo, com dois golos e uma assistência, terá mesmo carregado a equipa às costas. Isto num ambiente particularmente hostil para o madeirense, com os adeptos cipriotas gritando por Messi, criando, salvo erro, uma moda que se estendeu aos restantes jogos da fase de Qualificação. No entanto, pelo menos neste jogo, acabou por lhes sair o tiro pela culatra.
Um mês mais tarde, realizou-se a dupla jornada final da fase de Qualificação. Faltava-nos receber a Islândia e deslocarmo-nos a Copenhaga para enfrentarmos a selecção local antes de darmos o Apuramento por concluído. As nossas condições não eram as ideais, devido a várias ausências por lesão de titulares habituais (Pepe, Hugo Almeida, Fábio Coentrão). A esta lista, juntou-se Danny, pois este teve de ser submetido a uma cirurgia para remover um quisto sebáceo.
A urgência questionável de tal intervenção, aliada às suspeitas que se começavam a formar devido às repetidas ausências do nome de Bosingwa das listas de Convocados, mais, provavelmente, a tensão derivada à proximidade do fim do Apuramento abriram uma brecha na credibilidade do Seleccionador. A Comunicação Social enfiou-se dentro dela e os ataques começaram. De uma forma injusta, na minha opinião, tendo em conta o percurso de Paulo Bento como Seleccionador até à altura.
Conforme foi repetido até à exaustão, bastava um empate e uma vitória para nos qualificarmos directamente, embora na Selecção dissessem que não viam as coisas desta maneira, que encaravam um jogo de cada vez, que não jogavam para o empate. E não se pode dizer que os Marmanjos não juntaram o gesto à palavra no Estádio do Dragão uma vez que venceram os Islandeses por cinco bolas contra três. Contudo, o jogo não foi tão fácil como o que seria de esperar. Os islandeses entraram em campo invulgarmente desenvoltos, descongelados, soltos, como que querendo desafiar o estereótipo da equipa teoricamente mais fraca. Inicialmente, Portugal não se deixou afectar, conseguiu colocar-se três golos à frente dos islandeses, mas estes não demoraram muito a reduzir a desvantagem a apenas um golo, ficando muito perto de anulá-la por completo. Felizmente, o golo de Moutinho, seguido de Eliseu, aliviaram a intranquilidade que se tinha instalado com o seguindo golo da Islândia.
Apesar da vitória, a Selecção Nacional revelara algumas fraquezas. O ideal teria sido que o jogo tivesse servido de aviso, de wake-up call.
Mas não serviu.
Com esta vitória, a Equipa de Todos Nós dava mais um passo em direcção ao Europeu. Agora bastava um empate frente à Dinamarca para reservarmos logo um lugar na Polónia e na Ucrânia. E até podíamos perder em Copenhaga e qualificarmo-nos à mesma, desde que fôssemos a melhor Selecção em segundo lugar - a única que nos ameaçava era a Suécia. Esta ideia, repetida até à exaustão, irritou-me na altura, pois julgava que Portugal não precisaria de fazer tais contas. Agora, vendo em retrospectiva, a ideia ainda me irrita mais pois não nos serviu de nada.
A derrota de Portugal aos pés da Dinamarca constituiu, sem sombra de dúvida, o ponto mais baixo do ano. Foi provavelmente um dos piores jogos da Selecção dos últimos tempos, agonizante, em que o único ponto alto do jogo foi o golo excepcional de Cristiano Ronaldo. Ainda hoje não percebo o que aconteceu nessa noite para os Marmanjos jogarem tão mal. A era Paulo Bento, que até à altura, estivera quase imaculada, via a sua primeira derrota em jogos oficiais e a Selecção Nacional era relegada para os play-offs pois o jogo da Suécia - que, para animar ainda mais a noite, fora rico em reviravoltas - terminara com uma vitória para o seu lado, tornando-os a melhor equipa classificada em segundo lugar.
Na altura, acabei por dar graças por a Suécia se ter qualificado em vez de nós, pois não queria que a caminhada em direcção ao Europeu terminasse daquela forma. E agora que já sei qual foi o desfecho deste capítulo, ainda abençoo mais essa reviravolta do destino.
Pouco após o jogo com a Dinamarca, soubemos que, daí a um mês, disputaríamos o play-off contra a Bósnia-Herzegovina, selecção que já se havia cruzado no nosso caminho para o Mundial 2010, dois anos antes. Muita gente recomendava prudência uma vez que a equipa bósnia tinha melhorado significativamente ao longo dos últimos dois anos e, conforme o médio bósnio Zvjedzan Misimovic assinalou, Portugal tivera, teoricamente, condições para já ter o apuramento resolvido mas teve de ir aos play-offs. No entanto, a Turma das Quinas também havia crescido, sobretudo no último ano, e Paulo Bento chegou mesmo a dizer: "Não vou desconfiar de quem durante um ano e picos fez tudo o que devia e, por um jogo, pôr tudo em causa".
A preparação dos play-offs foi marcada pelo regresso de habituais titulares que haviam estado indisponíveis na última jornada dupla e ensombrada pela entrevista de José Bosingwa ao jornal "O Jogo". Como seria de prever, a Comunicação Social alimentou-se das polémicas declarações do jogador mas, aparentemente, estas não tiveram grande repercussão no seio da Equipa de Todos Nós.
A primeira mão do play-off foi disputada em Zenica, terreno bósnio, em condições bastante adversas para a Equipa das Quinas. Começando pelo relvado de péssima qualidade. A Federação Portuguesa de Futebol apelara para a UEFA, tentando fazê-los mudar a localização do jogo, mas os responsáveis fizeram ouvidos de mercador. Para cúmulo, os dirigentes bósnios ignoraram o acordo selado na manhã do dia da primeira mão e regaram o campo, pouco antes do início do jogo, piorando ainda mais o seu estado. Tal motivou a Selecção a jogar sob protesto.
Outro obstáculo que a Equipa de Todos Nós teve de enfrentar foram os adeptos bósnios pouco amigáveis, que tentaram desestabilizar a Selecção Portuguesa e, em particular, o capitão Cristiano Ronaldo, com lasers e gritos por Messi.
A primeira mão do play-off terminou com o marcador por abrir. O resultado desapontou mas a exibição da Equipa das Quinas não. O domínio do jogo foi claramente português, falou-se de "espírito guerreiro", "personalidade fortíssima". Terá literalmente sido o campo (que foi apelidado de horta, batatal, pseudo-relvado, Farmville, etc) a impedir a vitória da Selecção Portuguesa. Em todo o caso, ficaram boas promessas para a segunda mão, que se realizaria no Estádio da Luz, daí a quatro dias.
Promessas essas que foram cumpridas, e muito bem cumpridas, naquele que foi o ponto mais alto do ano, ou mesmo de toda a Qualificação. Nesse Portugal recebeu e venceu na Luz a Bósnia por seis golos espectaculares contra dois que não passaram de pormenores tornados pormaiores, num jogo épico (palavra muito na moda e demasiado vulgarizada, na minha opinião) e emocionante, que se assemelhou a um resumo de toda a caminhada em direcção à fase final do Euro 2012, com todos os momentos de brilho, de garra, juntamente com os momentos menos bons e as inesperadas escorregadelas, antes de apresentar o desfecho da história. Que não podia ser mais feliz. O Hino Nacional entoado a plenos pulmões por todo o Estádio encerrou a caminhada, encerrou um jogo que teve todas as características de uma grande final. Um jogo que representou uma desforra contra um caso envolvendo um antigo Seleccionador de fraco carácter, dirigentes corruptos, em Portugal e no estrangeiro, jogadores desertores, notícias desestabilizadoras, relvados manhosos, lasers, adeptos hostis, árbitros pouco parciais. Uma desforra contra a crise que assola o País já ninguém sabe desde quando, contra os cortes impostos pelo Orçamento e pela Troika (bem menos simpática do que a Troika de ataque que empurrou a Selecção para a frente), contra os juros da dívida que, se não estou em erro, já roçam os vinte por cento, contra políticos corruptos e incapazes, contra os sacrifícios que parecem nunca mais acabar, contra o desemprego, contra a depressão, contra o desânimo. Um jogo que selou o apuramento e o renascimento da Selecção Nacional.
No dia 2 de Dezembro, realizou-se o sorteio da fase de grupos do Euro 2012 e Portugal ficou a conhecer os seus futuros adversários: serão eles a Dinamarca, a Holanda e a Alemanha. Dificilmente nos poderia ter calhado um grupo mais difícil. Podemos ver tanto este resultado como outro qualquer como uma coisa boa ou má, dependendo da maneira como o encararmos. Contudo, uma coisa é certa: aguardam-nos jogos verdadeiramente emocionantes, que ficarão para a História, independentemente do desfecho final.
Foi isto que aconteceu de mais relevante à Selecção Nacional ao longo de 2011. Em suma, foi um ano muito positivo em termos futebolísticos, não só por a Equipa das Quinas se ter qualificado para o Europeu do próximo ano, mas também por causa da Liga Europa, em que três equipas portuguesas chegaram às meias-finais, duas chegaram à final e, como é óbvio, uma delas levou o troféu para casa.
Em termos políticos, financeiros e sócio-económicos, 2011 foi um ano para esquecer, com o governo a demitir-se, a chegada da Troika, a ameaça da queda do Euro, entre outras desgraças. E a situação não parece estar perto de melhorar, sobretudo porque já sabemos que em 2012 nos esperam vários cortes e vida ainda mais difícil.
Em termos pessoas, tirando o contexto acima descrito, devo dizer que foi um dos melhores anos da minha vida, por várias razões. Muitos dos desejos e objectivos que tinha definido no início do ano cumpriram-se. Além disso, posso dizer com toda a segurança que evoluí ao longo do último ano, Tal evolução já havia começado em 2010 mas bem mais discretamente, a grande explosão deu-se este ano. Não sei dizer se me tornei uma pessoa melhor, mas, pelo menos, tornei-me um pouco mais corajosa, um pouco mais certa do que sou e do que quero. Dei vários passos em frente. O facto de ter ido ao Jamor assistir aos treinos da Selecção foi um deles, ainda que não o mais importante. Ainda não estou onde quero estar, ainda tenho um longo caminho a percorrer e tenciono continuar a percorrê-lo em 2012.
Olhando, então, para o próximo ano, no que toca à situação do País, já ninguém se atreve a pedir desejos, a ser optimista, depois de sofrermos desilusões atrás de desilusões. Estamos uma posição semelhante àquela onde nos encontrávamos no início de 2011. O ano que findava havia sido mau mas tudo indicava que o ano que começava seria ainda pior. No entanto, "não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe". Isto não pode durar para sempre, terá de existir uma altura em que isto comece a melhorar! Já andamos em crise há demasiado tempo, já chega!
Existe outra coisa em comum com o início de 2011 e o início de 2012: o facto de o futebol, em particular a Selecção, ser a única coisa que funciona bem neste País, a única coisa a que nos podemos agarrar, a única coisa que nos dá boas promessas para 2012. Quer a Selecção chegue à final de Kiev ou fique pela fase de grupos (que o Diabo seja cego, surdo, mudo e não tenha acesso à Internet...), aquelas semanas antes do Euro 2012 e pelo menos a primeira semana da fase final ninguém nos tirará. Nesse intervalo de tempo, os nossos pensamentos e, pelo menos, o meu coração estarão sediados na Polónia e na Ucrânia. Teremos algo que fugirá à rotina e que nos ajudará a suportar as dificuldades.
Quem me dera que outras coisas neste País funcionassem como funciona a Equipa de Todos Nós!
Para 2012 desejo, então, que sejamos campeões europeus. Que um clube português volte a ganhar um título europeu. Que o tal virar de maré de que falei acima ocorra no próximo ano. Que em 2012 vocês, leitores, tenham uma vida melhor, que evoluam, que consigam realizar os vossos sonhos, ou seja, que 2012 vos corra como 2011 correu a mim. E uso emprestada a foto da página do Facebook Sócio da Selecção para vos desejar...
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