terça-feira, 10 de setembro de 2013

Irlanda do Norte 2 Portugal 4 - Uma epopeia com contornos dantescos

Na passada sexta-feira, 6 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol disputou, no Estádio Windsor Park, em Belfast, na Irlanda do Norte, frente à seleção da casa, o seu antepenúltimo jogo da Qualificação para o Campeonato do Mundo da modalidade, que terá lugar no Brasil, no próximo ano. Tal embate terminou com uma vitória por 4-2 para as cores portuguesas.

Foi um dos jogos mais estranhos, mais loucos, mais bipolares a que assisti. Fez com que o jogo com a Dinamarca, no ano passado, quase tenha parecido um piquenique. Não estava à espera, ninguém estava à espera, penso eu.

Assisti à primeira parte do jogo com o meu pai e a minha irmã. À segunda parte, assisti sozinha. Contudo, ao longo dos noventa minutos, estive sempre acompanhada pelo estádio do Twitter. O hino foi um momento mais engraçado do que o correto, visto que conseguíamos ouvir os jogadores cantando desafinadamente e um verso adiantados em relação à música. Sei que não é, de todo, patriótico rirmo-nos durante o hino mas não resisti...

Cedo ficou claro, pela maneira titubeante como Portugal entrou, que o jogo não ia ser fácil, que, mais uma vez, nos reclamaria anos de vida. Cheguei mesmo a dar com um tweet que previa um jogo muito físico, que não acabaria sem um cartão vermelho. Não nos enganámos mas, lá está, nem eu nem, provavelmente, o autor deste tweet imaginávamos que seria até esta escala. Também se viu cedo que este era, como diziam os comentadores, um "árbitro emocional" - prefiro, no entanto, o termo escolhido pelo Record: histérico - pela maneira como, cedo, o Pepe viu o amarelo. Os portugueses tinham a obrigação de ter percebido logo a aí o que a casa gastava. Mas já lá vamos.



O golo português, marcado na sequência de um canto, surgiu sem que, propriamente, o merecêssemos mas já estivemos demasiadas vezes na posição contrária. Foi, de resto, um belo remate de futevólei do defesa que, assim, se consolidava como o segundo melhor marcador português da Qualificação (isto é, antes de o Ronaldo se ter endiabrado na segunda parte).

- Bolas paradas é com o Bruno Alves! - disse a minha irmã.

Apesar de parte de mim saber que os irlandeses não desistiriam assim tão facilmente, tive esperanças de que o jogo se tornasse mais fácil. Não se tornou. Estava apenas a começar. Não passou muito tempo antes de sofremos um golo, também de canto. Em jeito de recordação de que o encontro não estava destinado a ser pacífico.

Mesmo depois de reposta a igualdade, achei que ainda existiam boas hipóteses de ganharmos. Os Marmanjos não estavam a jogar nada de jeito mas já se falava da entrada de um Nani decidido a reconquistar a titularidade, cuja garra nos poderia ajudar. Continuava por isso razoavelmente confiante.

Até Hélder Postiga me trocar as voltas.


Nesta altura, já devem estar fartos de saber o quanto gosto do Postiga. Não vos será, portanto, difícil de imaginar como fiquei quando ele foi expulso. Nem parece dele. Nem sequer me lembro de ele alguma vez ter visto um amarelo enquanto representava a Seleção. O árbitro exagerou, é claro, aquele "encosto" merecia, no máximo, amarelo mas, tal como disse atrás, o árbitro já tinha mostrado ter critérios peculiares. E aquele gesto do ponta-de-lança foi perfeitamente desnecessário. Naquele momento, pensei mesmo que o Hélder, passe a expressão, nos tinha lixado a todos, que tinha dado cabo daquele jogo e, talvez, de todo o Apuramento - até porque, com este cartão, ele excluiu-se do igualmente difícil jogo com Israel. Jogo a que, ainda por cima, devo ir assistir ao vivo mas em que já sei que não verei um dos meus jogadores preferidos. Tudo por causa de uma infantilidade. Porquê, Hélder, porquê????

Durante o intervalo, preparei-me o melhor possível para uma segunda parte tão agonizante, tão dantesca como a primeira. O segundo golo dos irlandeses não me surpreendeu mas minou-me a confiança, que já não era muita. Eu pensava que tínhamos ultrapassado essa fase má da Seleção, pensava que já se tinha dado a viragem. Pensava que já não íamos perder mais pontos, que não íamos comprometer de novo. Mas naquele momento pensei que me tinha enganado. O facto de o irlandês estar em posição irregular não ajudou em nada, antes pelo contrário. Desta vez não podia culpar os jogadores, tirando Postiga, já que estes estavam a esforçar-se, não tinham culpa de que o árbitro estivesse a protagonizar demasiado naquele jogo. Mas lá ia mantendo os dedos cruzados, lá ia esperando um milagre ou, pelo menos, um empate.

O milagre acabou, de certa forma, por vir aos poucos, começando com a expulsão de Brunt. Tal repôs a igualdade no número de jogadores, deixou menos irlandeses disponíveis para marcar Ronaldo, devolveu-nos alguma esperança.


Esperança, essa, que se confirmou com o primeiro golo de Cristiano Ronaldo. Tento esse que foi celebrado com fúria, com um brado raivoso de:

- Tomem! Vão p'ró c******!

Não foram definitivamente os festejos mais bonitos mas eu não estou em posição de criticá-lo. Também eu expurguei as frustrações daquele embate praguejando no Twitter - algo que não costumo fazer. Depois, fiquei a tremer com as emoções. Não estava a ser um jogo fácil para ninguém.

Felizmente estava a tornar-se mais fácil, sobretudo depois da expulsão do segundo irlandês. Estavam poucos portugueses na assistência, comparados com os barulhentos irlandeses, mas, de vez em quando, iam conseguindo fazer-se ouvir. Nesta altura iam gritando:

- SÓ MAIS UM! SÓ MAIS UM!

E Ronaldo correspondeu ao pedido com mais um golo.

- Até a chuva parou com o regresso de Portugal à vantagem - chegou a dizer um dos comentadores. Liderando a revolta portuguesa, Ronaldo fizera a reviravolta, o milagre, parecerem fáceis. Mas também, o madeirense tem qualquer coisa de sobrenatural, por isso, não é de estranhar.


Ainda houve tempo para ele marcar o seu terceiro golo, de livre direto. Aí é que fiquei completamente rendida a Ronaldo, ficámos todos. Ele que marcava o seu primeiro hat-trick com a Camisola das Quinas, que ultrapassava o recorde de Eusébio - cuja reação, devo dizer, me deixou triste. Esperava um pouco mais de humildade dele. Ainda me lembro do tempo em que a ideia de que alguém poderia ultrapassar o Rei parecia heresia mas agora já dois o ultrapassaram... E, embora todos saibamos que o Eusébio e o Pedro Pauleta nunca serão apagados da História, em breve, o Cristiano ultrapassará o recorde do açoriano, consolidando-se como o melhor futebolista português de todos os tempos.

E eu só penso na sorte que tenho por, na minha curta vida, ter podido ver tantas lendas portuguesas em ação.

Gostei quando, na flash-interview, o Hugo Gilberto disse:

- Aposto que o Cristiano não se importará se eu lhe chamar CR3.

Também me deu gozo a maneira como este hat-trick de Ronaldo calou os adeptos irlandeses, que passaram uma boa parte do jogo a chamar por Messi e, segundo o que li no Twiter, a cantar que Ronaldo não passava de um Gareth Bale baratucho. Eu, já nos primeiros minutos do jogo, twittei que os irlandeses deviam perguntar aos malteses, aos bósnios e aos croatas o que tinha acontecido quando eles gritaram por Messi. Eu sabia, de certa forma, que isto ia acontecer - mas, obviamente, não a este nível.



Não sei mesmo descrever o jogo, de tão atípico que foi. Tal como li noutro blogue, tal como a segunda mão do playoff de 2011, acabou por ser um jogo-resumo da Qualificação até agora: jogos inesperadamente difíceis, jogadores boicotando-se a si mesmos e, no momento em que tudo parece perdido, os Marmanjos lá arranjam forças, não se sabe bem onde, para se superarem, para se salvarem. No caso deste jogo, fizeram-no de uma forma inesperadamente grandiosa. Em, suma foi um encontro que chegou a ser dantesco mas que, no fim, se revelou uma autêntica epopeia.

Nesse aspeto, dá imenso jeito ter um jogador como Cristiano Ronaldo, capaz de, um momento para o outro, se endiabrar e reescrever a história de todo um jogo praticamente sozinho. Detesto a ideia, muito vendida por estes dias, de que a Seleção é "Ronaldo mais dez" ms tenho de admitir que, pelo menos naquela noite, ele foi crucial. Mais do que o Homem do Jogo, ele foi o Herói do Jogo. Conforme Bruno Alves afirmou, na flash-interview: "Foi um jogo difícil mas é nos jogos difíceis que se veem os grandes jogadores."


No entanto, ao contrário do que uma boa parte da Comunicação Social tem feito até agora, não ignoro o resto da equipa. Conforme, mais uma vez, o "sábio" Bruno Alves afirmou, "esta vitória é de todos os que cá estiveram, mesmo os que ficaram de fora. Estamos sempre juntos na vitória ou na derrota." Este foi mais um jogo em que a união e o espírito guerreiro intervieram quando as pernas ou a cabeça (sim, estou a falar de ti, Postiga!) faltaram. Mais um jogo em que se provou que vale a pena acreditar até ao último minuto do último jogo, mesmo quando já não parece possível, porque a Seleção, mais cedo ou mais tarde, dá a volta ao texto.

Mas, por amor de Deus, só espero que não se voltem a enfiar num buraco como aquele tão cedo! É que os nossos corações não dão para anto! Que tenha servido de lição.


Entretanto, temos ainda o jogo com o Brasil. Fiquei triste por saber que o Cristiano não foi com eles para Boston, embora compreenda os motivos. Mas tenho pena, mais do que por não poder ver o duelo Ronaldo versus Neymar, por não ver o reencontro com Scolari. Contudo, ainda temos vários jogadores "sobreviventes" da era dele, o Carlos Godinho, o próprio Paulo Bento que é amigo de Felipão. Além disso, com um bocadinho de sorte, talvez Ronaldo e Scolari se possam reencontrar durante o Mundial.

Já decidi que, definitivamente, não me vou ralar demasiado com o resultado deste jogo. Depois de sexta-feira, preciso de poupar o meu sistema cardiovascular. O jogo será às duas da manhã de cá... Para mim não é problema - neste momento, são duas da manhã, faltam vinte e quatro horas para o início do jogo, e estou aqui, a acabar esta entrada. O pior é que, aquando do Mundial, os jogos devem ser todos a horas inconvenientes, como estas. Nessa altura será mais complicado pois, provavelmente, terei de me levantar cedo.

Contudo, antes de pensarmos nisso, temos de Qualificar-nos. Ainda nos faltam dois jogos, um dos quais será, certamente, tão difícil como este, com a Irlanda do Norte, foi. Talvez ainda mais. Espero que o particular com o Brasil, para além se ser uma festa do futebol, nos ajude a preparamo-nos para as duas finais que faltam deste Apuramento. Para podermos dizer aos nossos irmãos para guardarem umas caipirinhas para saborearmos enquanto estivermos no Brasil, durante o Campeonato do Mundo. 

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