domingo, 13 de novembro de 2011

Bósnia 0 Portugal 0 - Sem motivos para preocupações

Na passada Sexta-feira, dia 11 de Novembro, realizou-se em Zenica, na Bósnia-Herzegovina, a primeira mão do playoff de acesso ao Campeonato Europeu de Futebol de 2012, a realizar-se na Polónia e na Ucrânia. O duelo que opôs a Selecção da casa à sua congénere portuguesa terminou empatado sem golos.

Só consegui seguir o jogo com a devida atenção durante a primeira meia hora. Nesse intervalo de tempo, assisti ao desafio numa televisão de sinal ainda analógico, com o som desligado, ouvindo ao mesmo tempo o relato via rádio. Deve ter sido a última vez que vi um jogo dessa forma uma vez que, com a substituição pela Televisão Digital Terrestre, deve acabar a sincronia quase perfeita entre a televisão e a rádio – algo que lamento profundamente. Já antes mencionei aqui o contagioso entusiasmo com que os jogos são relatados na rádio, fazendo os comentadores televisivos parecerem terrivelmente enfadonhos. Na Sexta-feira, não foi excepção. O locutor da Antena1 – cujo nome não decorei – relatou de forma primorosa ao longo do tempo em que estive a escutá-lo. Ele ia intercalando o relato com uma ou outra curiosidade ou uma ou outra piadinha. Mencionou, por exemplo, que um dos responsáveis bósnios fora, de gravador em punho, confirmar com um jornalista da SIC que aquele é que era o hino nacional português; que pernoitara no mesmo hotel que Howard Webb – o árbitro – e que não gostaria de encontra-lo num beco escuro, visto Webb ser alto e corpulento.

Ele pode ter estado apenas a encher chouriços mas os comentadores televisivos, quando não têm nada para dizer, a sua criatividade limita-se a: “Acompanhe depois o rescaldo do jogo na RTP Informação” e pouco mais.

Visto que Portugal cedo ganhou o domínio do jogo, assisti ao desafio com bastante tranquilidade – em contraste absoluto com a agonia que fora o jogo com a Dinamarca. Mais uma prova de que a noite de Copenhaga fora apenas azar, um acidente de percurso. “Aqui quem manda somos nós”, disse mesmo o locutor. O primeiro golo não tardaria, achava eu.

Enganava-me. Entretanto, saímos para o jantar de aniversário da minha mãe – que completou cinquenta anos nesse dia. Entre beijos e abraços aos amigos e familiares, a ocupação dos lugares à mesa, a actualização das conversas, os primeiros pratos, só de vez em quando é que ia olhando a televisão. Não era, portanto, capaz de perceber o que se estava a passar ao certo. Como tal, quando o jogo terminou com o marcador por abrir, não consegui deixar de ficar desanimada. Não percebia como é que aqueles Marmanjos não tinham conseguido marcar apesar de terem jogado tão bem na primeira parte. Fazia-me recordar a Qualificação para o Mundial 2010, em que a Selecção jogava bem mas era incapaz de marcar golos. E, sem golos fora, se os bósnios marcarem na Luz, vai ser complicado.

Só mais tarde, quando vi as notícias, é que percebi que não existem motivos para grandes preocupações. A única coisa que, pelos vistos, nos impediu de levar o jogo de vencida foi, literalmente, o campo. Eu acho um bocado patético estamos a dizer “Eu sei dançar! A pista de dança é que não presta…” mas este foi mesmo um caso à parte. Portugal fez uma exibição de grande qualidade, falou-se mesmo de “personalidade fortíssima” e de “espírito guerreiro” e, segundo os jornalistas, deixou boas promessas para Terça-feira desde que jogue desta forma.

Tem graça. Geralmente, costumo ser eu a optimista e os media a ficar de pé atrás, mas neste jogo passou-se o oposto… Mas eu própria vi-os a jogar de forma excelente durante a primeira parte e acredito que a qualidade se tenha mantido ao longo dos noventa minutos de jogo, por isso…

O campo, de resto, tem sido uma verdadeira dor de cabeça há já coisa de um mês. Vários nomes foram usados para o definir – batatal, horta, pseudo-relvado – e várias piadas foram feitas. Um exemplo foi um tweet de @lidiapgomes : “Portugal ainda não encontrou o caminho do golo mas já encontrou 3 batatas, 5 cenouras e vários tomates no relvado” – depois desta, o Fábio Coentrão não vai precisar de voltar a assaltar a horta do Cristiano Ronaldo tão cedo… Outro exemplo, foi uma frase do jornal Record: “Pepe foi o que mais amealhou no Farmville”. Adorei estas duas! A Federação já tinha pedido à UEFA que trocasse a localização do jogo mas tal pedido caiu em saco roto. Isto apesar de a França ter pedido o mesmo em relação ao seu embate com a Bósnia aquando do apuramento – algo que já não me surpreende.

Aquilo que me surpreendeu foi o facto de os dirigentes bósnios terem desrespeitado o acordo forjado na manhã antes do jogo e regado o campo, piorando ainda mais a sua qualidade. Juro que não percebo qual foi a ideia deles. À pala disso, a Selecção jogou sob protesto. Agora, estou curiosa em relação às consequências de tal processo.

Mas entretanto, ainda temos a segunda mão do playoff, na Terça-feira, no Estádio da Luz. Esta coisa do “relvado” e dos dirigentes bósnios é apenas um factor a contribuir para um desejo relativamente saudável de vingança. Como dizia no Record, mais uma vez, desejamos uma desforra por isso e pelos adeptos hostis que fizeram barulho à porta do hotel da Selecção, que apontaram lasers ao Ronaldo e gritaram por Messi (apesar de muitos garantirem que, há dois anos, foi pior. Por acaso, até gostei da linguagem gestual cujo significado toda a gente conhece. Pode não ter sido politicamente correcto mas, como costumo dizer, uma miúda não é de ferro e não tenho lata para exigir que o Ronaldo o seja quando tanta gente tenta destabilizá-lo). Para isso, a ideia dos jornalistas é encher o Estádio da Luz, não só de adeptos, mas também “de fervor, de paixão, de entusiasmo, de alegria”. Recriar o lendário Inferno da Luz.

A mim, não é só a vingança que me motiva. Existem outros desejos mais antigos, várias vezes mencionados aqui no blogue ao longo do último ano: consumar o renascimento da Selecção depois do caso Queiroz; dar uma alegria aos portugueses numa altura em que tudo o resto está cada vez pior; uma promessa de mais alegrias no próximo ano, algures entre Maio e Junho. Encerrar o percurso até à fase final do Euro 2012 da melhor forma. Até porque, na remota hipótese de falharmos, o Europeu não terá o mesmo interesse, não só para nós, mas também para o mundo futebolístico em geral. Na coluna de Alexandre Pais do Record, este dizia: “Cristiano, dia 15 é a tua noite, as 21 são a tua hora”. Eu prefiro a frase assim: dia 15 é a nossa noite, as 21 são a nossa hora. Porque a Selecção não é só o Ronaldo. Somos todos nós. E na próxima Terça-feira mostraremos ao mundo aquilo de que somos capazes.


P.S. Não quero falar sobre José Bosingwa. Já se falou e opinou o suficiente sobre isso, não tenho muito mais a acrescentar. Aliás, as declarações e os rumores que têm circulado pelos media podem estar incompletos, descontextualizados, talvez até sejam falsos. Por isso, não me sinto à vontade para tecer julgamentos. Além de que não sei ao certo o que pensar desta história toda… Assim, apenas lamento que a Selecção tenha perdido mais uma mais-valia. E, tal como aconteceu com Ricardo Carvalho, espero que a Equipa de Todos Nós não saia demasiado afectada desta história toda e que, eventualmente – embora saiba que é pouco provável – Bosingwa e Paulo Bento façam as pazes e o jogador possa voltar à Selecção.

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