Na passada terça-feira, dia 11 de setembro, a Seleção Portuguesa de Futebol recebeu no Estádio Axa, em Braga, a sua congénere azeri. Foi um jogo a contar para a Qualificação para o Campeonato do Mundo em Futebol, que se realizará em 2014 no Brasil, que a Seleção levou de vencida por três golos sem resposta.
Vi este jogo na sua totalidade acompanhada pela minha irmã mais nova, como já se tornou hábito. As suas tiradas, de um humor entre o de menina reguila e de dondoca, dão sempre uma outra graça a tudo. No início, ela disse-me que a Seleção nunca havia ganho naquele estádio. O meu irmão, prático, fez-lhe ver que existem muitos estádios no planeta que nunca albergaram uma vitória portuguesa. E este era apenas o terceiro jogo da seleção naquela arena.
No entanto, mentiria se dissesse que a ideia da maldição do Estádio de Braga, o espectro do empate frente à Albânia há quatro anos naquele palco nunca me passaram pela mente durante os noventa minutos do jogo.
A Seleção entrou e campo com uma atitude completamente diferente com que abordara o jogo de sexta-feira. Este encontro foi de sentido único, disputando-se quase todo no meio campo azeri. A baliza dos nossos adversários esteve constantemente debaixo de fogo. No entanto, a bola teimava em não entrar.
Isto é já um problema crónico, um filme muito visto, protagonizado pela Equipa das Quinas: a finalização. João Moutinho, no final do jogo, falava em azar - mas eu também vi alguma aselhice na maneira como perdiam as bolas na grande área azeri. Algumas pareciam de propósito. A páginas tantas, a coisa torna-se psicológica, formando-se um ciclo vicioso. Não ajudava o facto de o guarda-redes azeri, depois de um frango no último jogo da sua seleção, estar inspirado naquela noite.
Há uns tempos, ouvi a minha irmã a reclamar a propósito do seu clube:
- Porque é que todos os guarda-redes fazem os jogos das vidas deles sempre que jogam contra o Sporting?
Podia-se perfeitamente reformular essa pergunta, desta feita, para a Seleção. No entanto, pior do que o guarda-redes, era o poste.
Se não se justifica falar de uma maldição do Estádio Axa, o caso muda de figura no que toca aos ferros das balizas. Só neste jogo, enviámos umas seis ou sete bolas ao poste. Já na sexta-feira, tinham ido duas ou três. E isto já vem desde o Europeu. Não percebo o que é que existe entre a Seleção e a trave para os Marmanjos estarem constantemente a enviar-lhes as bolas... Não parece ser um relacionamento saudável, como dizia a Ana, uma das minhas seguidoras no Twitter, a Turma das Quinas parecia gostar demasiado de dar boladas aos ferros...
- Juro-te, o poste é o melhor guarda-redes de sempre! - chegou a reclamar a minha irmã.
No intervalo, o Ronaldo chegou a ir até aos ferros, como que para se certificar de que não havia nenhum íman escondido que estivesse a atrair a bola. Mas talvez a melhor solução seja aquela que o Record sugeriu: ir à bruxa.
No meio de tudo isto, há que louvar a atitude dos jogadores. Apesar de exibirem, ocasionalmente, sinais de ansiedade - a certa altura o Ronaldo começou a rir-se após os remates falhados, como se tivesse chegado àquela fase em que se ria para não chorar - a equipa nunca perdeu o norte, todo e cada elemento - incluindo aqueles como o Nani que nem sequer estavam a ter um desempenho brilhante - se entregou competamente ao longo de todos os noventa minutos de jogo.
Por outro lado, o que nos valeu foi o facto de o Azerbaijão não ter tido capacidade de tirar proveito da nossa falta de pontaria. Com outro adversário, a história seria diferente.
O momento alto do jogo foi a substituição de Miguel Veloso por Varela, aos sessenta e poucos minutos de jogo, seguida, ainda nem um minuto havia passado, do primeiro golo do encontro, marcado pelo homem que acabara de entrar. Mais uma vez, Varela fez de bombeiro da Seleção, de Salvador da Pátria, depois daquele inesquecível golo frente à Dinamarca. Não quero comparar as circunstâncias em que se marcaram os dois mais recentes golos do Marmanjo envergando a camisola das Quinas, mas ambos foram celebrados intensamente, com um misto de alívio e júbilo.
Este golo deu à equipa a confiança necessária para, mais uma vez, tal como disse a Ana, deixar os postes em paz e dilatar ainda mais a vantagem O primeiro a fazê-lo foi, mais uma vez, o Hélder Postiga, após uma bela assistência de Cristiano Ronaldo.
Tal como já tinha escrito no outro dia, parece que os jornais já perceberam, finalmente, que o Hélder até é bom jogador. Hoje assinalaram que o ponta-de-lança já tem uma média de golos superior à do Ronaldo - tal como já eu tinha dito antes do Europeu. Ainda ontem, no início do jogo, o meu irmão perguntava como é que ainda deixavam o Postiga jogar.
- Ui, agora irritaste a Sofia - comentou a minha irmã, divertida.
No entanto, engoli a irritação e nada disse. O Hélder falou por mim ao marcar o golo. Depois de o celebrar, virei-me para o meu irmão e perguntei-lhe.
- Que 'tavas a dizer sobre o Postiga?
Deste modo, neste momento, depois de muito ter defendido o Hélder, no blogue, no Facebook, na televisão, cada golo dele com a camisola das Quinas ganha um sabor especial, é uma prova de que tenho razão.
Mas também, se formos por aí, cada golo que a Equipa de Todos Nós marca também é uma prova de que tenho razão, de que faço bem em apoiá-los incondicionalmente.
O golo de Bruno Alves - que já tinha marcado no último jogo frente ao Azerbaijão - surgiu três minutos mais tarde, quase sem darmos por ele, selando o resultado. Quando o árbitro apitou três vezes, fiquei com pena pois até estava a gostar do jogo.
Como podem calcular, fiquei satisfeita. Foi uma boa noite para a Turma das Quinas. Portugal amealhou mais três pontos, totalizando seis, neste momento, e fez uma exibição globalmente positiva, tirando os problemas na finalização. Gostei sobretudo do facto de a Seleção ter melhorado de um jogo para o outro. Daqui a um mês, enfrentaremos a Rússia, a nossa principal adversária neste Apuramento. Como quero que Portugal volte a amealhar seis pontos nessa dupla jornada, espero que a Equipa das Quinas esteja ainda melhor nessa altura, que continue a crescer à medida que a Qualificação avança.
Paulo Bento fez questão de abrir a Conferência de Imprensa que se seguiu ao jogo agradecendo ao público por, numa altura em que as coisas parecem cada vez piores a nível sócioeconómico, por terem vindo ao estádio. Fica bem o agradecimento. Há que, de facto, elogiar o público que foi impecável: puxando pela Seleção durante praticamente todo o jogo, sendo paciente perante os inúmeros ataques falhados. E a Seleção até retribuiu bem o apoio que lhe foi dado.
Cada vez mais pessoas, começando pelas trinta mil que foram ver este jogo, começam a aprender aquilo que já sei há, pelo menos, dois anos: neste momento, a Equipa de Todos Nós é a única instituição neste País que cumpre as promessas que faz, que retribui aquilo que recebe da nossa parte, que nos oferece consolo e alegria. Não resolve a crise, ao contrário do que o Onze Por Todos insinuava, mas dá-nos alguma força para lidarmos com ela. Eu própria tenho tido alguns dias complicados ultimamente. No entanto, agora, este tão desejado bom arranque de Qualificação, a expectativa dos próximos jogos, ajudar-me-ão a não ter medo do que aí vem. E estou certa de que também ajudará outras pessoas. É a conversa do costume, que tenho vindo a repetir desde há dois anos a esta parte. Espero que a Seleção continue a dar-me motivos para repetir estas palavras de esperança outra e outra vez.
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