terça-feira, 19 de junho de 2012

Portugal 2 Holanda 1 - Desafio ultrapassado!

Quando, no passado dia 2 de dezembro, fomos sorteados para o Grupo B do Euro 2012, com a vice-campeã europeia, a vice-campeã mundial e a seleção que tinha ficado à nossa frente nas nossas duas últimas fases de Qualificação, receei seriamente que Portugal regressasse a casa ontem. Agora, estou aqui escrevendo sobre a Seleção que sobreviveu ao Grupo da Morte, enviando a atual vice-campeã do Mundo de regresso a casa, enquanto bebo um belo copo de sumo de laranja natural.

Antes deste jogo, estava muito confiante num bom resultado para as cores portuguesas e, em parte derivado de um sonho que tivera na noite anterior, estava, à semelhança de muitos, com um pressentimento de que Cristiano Ronaldo vingar-se-ia dos críticos e marcava, pelo menos, um golo. Contudo, tal não me impediu, como sempre, de sofrer imenso enquanto via o jogo.


Os primeiros dez, quinze minutos do jogo são incompreensíveis para mim. Parecia que os Marmanjos estavam propositadamente a dar espaço à Holanda. O golo laranja não surpreendeu, portanto. Não foi, igualmente, surpresa que a Turma das Quinas tenha começado a jogar a sério após o tento holandês. Talvez eles tenham feito um acordo com um cardiologista, para ele tratar dos nossos corações torturados pelos jogos da Equipa de Todos Nós. Talvez a Seleção seja fisicamente incapaz de dar tudo por tudo quando não está na corda bamba. Só sei que não havia necessidade, como diz o outro, de termos entrado tão mal e sofrido aquele golo. 

O primeiro golo de Portugal, que devolveu a igualdade ao marcador, foi uma chapada de luva branca aos críticos. Não apenas de Cristiano Ronaldo, mas também aqueles que haviam criticado a inclusão de João Pereira - que fez a sublime assistência para golo - na Convocatória. Não apenas na Convocatória deste Europeu, mas também em anteriores. Parabéns aos dois! Depois do golo, deu-se aquele que considero um dos momentos do jogo: o Cristiano dirigindo-se à câmara e gritando:

- P'ra ti, filho!


Há ainda bem pouco tempo, o Cristiano Ronaldo era o puto cheio de promessas que lutava pelo seu lugar na Seleção. Agora ele é o Melhor do Mundo, capitão da Turma das Quinas, um pai babado que dedica golos e prémios ao filho... Estamos todos a ficar velhos!

O relógio pareceu voar neste jogo. Quando dei por mim, já estávamos no intervalo. Na segunda parte, Portugal continuava imparável no ataque. Iniciativas de Nani e Fábio Coentrão podiam ter-nos dilatado o marcador mas estava escrito que aquela seria a noite de Cristiano Ronaldo. A jogada começou, julgo eu, com Nani. Este assiste para Ronaldo, num lance em que a bola faz uma trajetória em curva quase perfeita. O madeirense tem mais do que tempo para ajeitar a bola antes de a enviar para as redes da baliza adversária.


Depois desta, mais uma vez, o tempo voou. Em breve, o árbitro apitaria, marcando o fim do encontro e selando o nosso apuramento para os quartos-de-final do Euro 2012.

- Passámos a fase de grupos? - dissemos eu e a minha irmã, em coro, olhando uma para a outra - PASSÁMOS A FASE DE GRUPOS!! - exclamámos, celebrando com um duplo high-five.



Em Kharkiv e um pouco por todo o Portugal, multiplicavam-se as manifestações de euforia e triunfo. Através das janelas abertas, ouviam-se gritos, buzinas, vuvuzelas e sou capaz de jurar que, na nossa zona, alguém atirou fogo-de-artifício. No Estádio do Metalist, jogadores e selecionador celebravam uns com os outros, o Ronaldo exibia a camisola interior (da Nike, como não podia deixar de ser...) ostentando uma mensagem de amor ao filho, escrita num português  mal amanhado, mas com certeza sentida. Miguel Veloso exibia lágrimas nos olhos na flash-interview.


Contudo, as críticas à Seleção continuavam na mente dos jogadores. Foi por isso que fizeram greve às declarações aos jornalistas. Já veio muita gente reclamar, mas eu compreendo a atitude deles. O direito ao silêncio está incluído na liberdade de expressão, duvido que dissessem algo que o Cristiano Ronaldo ou o Miguel Veloso não tivessem dito já, prefiro que a Seleção comunique com os adeptos através de resultados.  E que cale os críticos da mesma forma. 

Paulo Bento foi, aliás, especialmente duro na Conferência de Imprensa. Hoje, cheguei mesmo a ler que esta é a Seleção "com a pior imprensa de sempre". Eu até compreendo algumas das críticas - já falei disso anteriormente. Sejamos sinceros, o desempenho da Turma das Quinas não tem sido perfeito mas também, tanto quanto sei, nenhuma seleção neste Europeu tem tido um desempenho isento de falhas. 

Depois, temos as críticas de certas personagens, que me irritam profundamente. Como as de Rui Santos. Eu odeio aquelas pessoas de carácter desprezível, que insultam os outros só por terem opiniões diferentes das suas. Quero evitar ao máximo ser assim, mas pessoas como este senhor tornam-no difícil. Pelo menos, hoje tenho argumentos para o contradizer a ele e a outros com críticas semelhantes.


Diz-se que nesta Seleção há mais vulgaridade que qualidade? Ora, se existe algo que a campanha da Holanda neste Europeu provou é que uma equipa cheia de talentos individuais não chega para ganhar jogos. Se existe algo que a nossa campanha até agora provou é que o espírito coletivo pode nem sempre dar-nos vitórias mas, sem ele, não estaríamos onde estamos agora. 

Diz-se que bem podiam estar lá jogadores que ainda estão no ativo, como Deco, Simão, Paulo Ferreira, Miguel, Bosingwa, Ricardo Carvalho? Ora, foram eles próprios que se excluíram da Seleção, direta ou indiretamente: Deco já o havia anunciado antes do Mundial 2010; Simão, Paulo Ferreira e Miguel debandaram cobardemente aquando do caso Queiroz; Bosingwa e Ricardo Carvalho são a história que se conhece. Aqueles que estão no lugar deles, cuja escolha nem sempre foi consensual - João Pereira, Hélder Postiga, Varela, etc - ajudaram a Seleção a chegar aos quartos.


Houve até quem questionasse a escolha de Paulo Bento para selecionador, uma vez que este só teve meia dúzia de anos como técnico antes da Equipa de Todos Nós, durante os quais apenas conseguiu duas ou três Taças de Portugal. Pois bem, deixem-me recordar que antes deve esteve um senhor, já praticamente um veterano nestas andanças, que apenas conseguiu uma Qualificação resvés Campo de Ourique, após uma série de empates; no Mundial, apenas conseguiu vencer uma equipa claramente mais fraca - a Seleção deste Europeu teria conseguido melhor do que um empate frente à Costa do Marfim e talvez mesmo frente ao Brasil - e, no fim, deixou uma equipa em cacos. 

Teve de vir o treinador inexperiente limpar a porcaria deixada por alheios. E fê-lo com uma mestria invejável: com apenas dois ou três treinos, conseguiu que a Seleção goleasse nos dois primeiros jogos ao seu leme. Qualificou-a para o Europeu - pelo caminho, fez uns três ou quatro jogos de grande qualidade - e agora conseguiu garantir-lhe um lugar nos quartos-de-final, após o chamado Grupo da Morte.

É nestas alturas que compreendo Luiz Felipe Scolari. Quem é o burro aqui, afinal?


Ao longo do ano passado, comecei a ter bons pressentimentos. A sentir que aquele sonho antigo, de ver Portugal ganhar um título, podia realizar-se em breve. A cada vitória da Turma das Quinas, a cada boa exibição, eu sentia que o sonho se ia tornando um pouco menos impossível.

Só que, entretanto, começaram a surgir contradições a essa sensação: a derrota frente à Dinamarca, em outubro do ano passado, o grupo difícil para o qual fomos sorteados, os últimos particulares antes do Europeu. 

Mas agora Paulo Bento e os Marmanjos devolveram-me esse pressentimento. Muitos diziam que quem sobrevivesse a este Grupo tornar-se-ia sério candidato ao título. Nós sobrevivemos. Batemo-nos como iguais com algumas das melhores seleções do Mundo. Graças a meia dúzia de jogadores de qualidade e a um coletivo ainda melhor. 

No entanto, como somos a única Seleção que sempre sobreviveu à fase de grupos dos Europeus, este triunfo oscila entre o grande feito e a obrigação. Não convém, por isso, alinhar em grandes euforias.


Julgo que a República Checa está ao nosso alcance. Já os vencemos em 2008. Além disso, o meu pai e o meu irmão comentaram, no dia em que os checos venceram a Polónia e carimbaram o seu apuramento, que, tirando o Peter Cech, eles não têm grande defesa. E nós temos um bom ataque, por isso...

No entanto, há que recordar que os nossos amigos checos conseguiram chegar aos quartos após uma derrota humilhante aos pés da Rússia, no jogo de estria - demonstrando que têm grande carácter. E ninguém quer repetir a história do Euro 96. Além disso, preocupa-me a mania que os Marmanjos parecem ter, de só darem o seu melhor quando estão em desvantagem - uma atitude perigosa, na minha opinião.

Mesmo assim, acredito neles. Acredito naqueles homens. Que têm dado provas de sobra de que merecem a nossa confiança, a nossa fé, o nosso amor. Acredito que pode ser desta. Só espero que, agora, os Marmanjos não desperdicem esta oportunidade que criaram de se aproximarem de um sonho que nos anda a escapar há demasiado tempo. Cá em Portugal, envergarmos as cores nacionais, torceremos por eles. O resto está nas mãos, ou melhor nos pés, daquela que é a Equipa de Todos Nós.

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