segunda-feira, 12 de maio de 2008

Devaneios antes do anúncio dos Convocados

Como já disse, é hoje que Scolari divulga os convocados para o Euro 2008. Sempre quero ver quem é que a Comunicação Social irá escolher para "pobre rejeitadinho" desta vez. Há quatro anos foi o Vítor Baía. Há dois anos foi o Ricardo Quaresma. Este ano ainda não deu para perceber quem é. Mas aposto que hão-de arranjar um jogador que não faça parte da lista dos convocados que sirva de pretexto para uma polémica.

Porque a Comunicação Social adora uma boa polémica. Ao fim e ao cabo, polémicas são minas de ouro: dão conteúdo para a primeira meia hora dos telejornais e meia duzia de páginas dos jornais, os comentadores têm algo sobre o qual falar ou escrever nas suas habituais crónicas, há assunto para fóruns de opinião e os humoristas têm material para os seus sketches. Por isso, os jornalistas estimulam as chamadas "guerras de palavras" entre figuras públicas, o cidadão comum a criticar o Governo nas reportagens, etc.

Vou dar como exemplo a fuga de gás ou lá o que era na Cidade Universitária, algures em Janeiro passado. Eu lembro-me de ver uma reportagem, já não sei em que canal, em que o(a) jornalista entrevistava uma empregada de uma das faculdades. Ela estava a comentar que ia regressar ao trabalho depois daquele susto, blá, blá, blá. A disposição dela era a de quem vai para o trabalho como todos os dias, quase como se nada de anormal se tivesse passado. A certa altura, porém, o(a) jornalista pergunta algo do género: "Mas não tem medo de voltar ao trabalho depois de tudo o que aconteceu?". Via-se logo que queria puxar um "Ah sim, isto só prova que a Faculdade não tem segurança nenhuma, a culpa é do Governo, aquilo é uma cambada de incompetentes, etc, etc" ou algo parecido. O que vale é que a empregada disse que não.

É por isso que vou confiando cada vez menos na Comunicação Social. Caem que nem abutres sobre a desgraça das pessoas de modo a ganhar audiências. E o caso da "Casa dos Horrores" na Áustria é outro exemplo. Todos os dias surgem com novos pornenores doentios sobre este caso macabro, até enjoa.

Em todo o caso, voltando à questão dos rejeitadinhos, na altura destes dois casos também não percebi muito bem porque é que o Mister embirrou com estes. Ao fim e ao cabo, no ano de 2004 o Vítor Baía foi o melhor guarda-redes da Europa, e, em 2006, o Quaresma foi um dos melhores jogadores da Liga. E ainda hoje não percebo muito bem, sobretudo o caso do Vítor.

Por outro lado, houve claramente um exagero, uma exploração dos casos até à exaustão por parte dos media. No primeiro caso, não sei como é que alguém pensou que Scolari iria Convocar um jogador que ele nunca Convocara antes, nem uma vez, e depois fizeram um escarcéu daquele tamanho. No segundo caso tenho menos argumentos mas, ainda assim, nós já tínhamos três jogadores óptimos na posição do Quaresma: o Figo, o Ronaldo e o Simão. Ia ser muito difícil conciliar quatro jogadores óptimos. Sei que é uma desculpa fraca mas, por outro lado, não foi pela falta do Vítor Baía que nós perdemos com a Grécia, nem foi pela falta do Quaresma que a gente perdeu com a França e depois com a Alemanha. E, de resto, depois do Mundial, o Quaresma passou a pertencer aos habituais da Selecção.

Faço agora uns dois apartes. Primeiro: há dois anos, pouco depois dos Convocados, contaram-me uma anedota. Pergunta: "Porque é que o Scolari não Convocou o Quaresma? Resposta: Por causa do Maniche. Ele não pode ter um olho do burro e outro no cigano." Não tem assim grande piada, mas, se se lembrarem, o Scolari convocou o Quaresma na primeira jornada do Apuramento para o Euro, em Setembro, mas ele falhou porque se lesionou. O Maniche também foi Convocado nessa e jogou normalmente. Na jornada seguinte, em Outubro, o Quaresma não foi Convocado, acho, porque ainda não estava em forma. Essa jornada foi também a última em que o Maniche participou antes do jogo com a Polónia, em Setembro do ano passado. A partir dessa altura, durante mais ou menos um ano, o Scolari deixou de Convocar o Maniche mas passou a Convocar o Quaresma. Ou seja, sempre que o Quaresma jogava o Maniche não jogava e vice-versa. E eu lembrei-me da anedota e pensei: "A brincar, a brincar...". Mas felizmente voltou tudo ao "normal" depois de o Quaresma e o Maniche jogarem ambos contra a Polónia, em Setembro.

Segundo aparte: gostava de imaginar o que diriam os críticos da época "Pré-Mundial", que julgavam que o Scolari embirrara com o Quaresma, se soubessem que seria "para defender o menino" que o Mister "agrediria" um sérvio e seria suspenso por três jogos por causa disso...

Voltando ao assunto dos "rejeitadinhos", quero ainda dizer que a gente tem muito a mania de nos armarmos em treinadores de bancada, de televisão, de rádio, de coluna do jornal, de blog, de sofá da sala, de café da esquina, etc, etc, mas se a gente estivesse no lugar do Mister provavelmente não faríamos melhor trabalho do que ele faz. Não estou a negar o direito à opinião, só estou a apelar a uma maior moderação nas críticas. O Seleccionador não é estúpido, ele sabe o que faz e as razões porque o faz.

Por fim, acho que o Mister precisa é do nosso apoio, não precisa que critiquem negativamente todas as suas decisões. Agora é esperar para ver o que sai da Conferência de Imprensa hoje às oito da noite.

Mudemos de assunto. Queria falar das minhas expectativas para o Euro 2008. Por um lado, estou confiante de que a Selecção vai fazer um bom desempenho no Campeonato. Por outro lado, tenho uma certa reserva. O apuramento para o Euro não foi exactamente brilhante, recentemente perdemos frente à Itália e à Grécia, duas das nossas adversárias directas e pertencentes ao lote dos favoritos. Temos óptimos jogadores mas falta construir uma equipa sólida, diz Scolari e outros. Vai ser difícil, talvez mais difícil do que no Euro 2004 e no Mundial 2006. Nesta situação, a expressão "A vida consite não em ter boas cartas na mão mas sim em saber jogar as que se tem" e a fábula da Lebre e da Tartaruga aplicam-se que nem ginjas. Se a gente tem boas armas mas não as sabe gerir, estas de nada servem.

A grande questão é se Scolari será capaz de transformar uma Selecção de estrelas desarticuladas numa equipa forte, candidata ao título. Não é fácil, longe disso. Mas eu acredito no nosso Seleccionador. Ele já nos levou aonde outros nunca nos levaram, porque é que não nos leva desta vez? Eu confio nele, mas espero que ele e os marmanjos que ele Convocar se empenhem a sério em treinarem para o Euro. Estou a contar com isso, espero que não me desiludem.

Enfim, a ver no que isto vai dar...

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