segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Dinamarca 0 Portugal 1 - O primeiro passo

Na passada terça-feira, dia 14 de outubro, a Seleção Portuguesa de Futebol defrontou a sua congénere dinamarquesa em Copenhaga, no Estádio Parken, em jogo a contar para o Campeonato Europeu da modalidade, que se realizará em França, no ano de 2016. Tal encontro terminou com uma vitória pela margem mínima para a equipa visitante.

Eu já sabia o que a casa gastava, sabia que os jogos com a Dinamarca são de sofrimento, que seria preciso paciência, acreditar até ao fim. Eu mesma o recordei antes do início do jogo. No entanto, não há maneira de me habituar a jogos como este, de manter a coerência. 

Ao contrário do que aconteceu no jogo com a França, a primeira parte começou bem para nós mas foi piorando. Graças a Deus, defendemos bem melhor. Também não atacávamos mal, mas não tão bem quanto seria desejável. Algo em que reparei foi que os nossos hesitavam demasiado quando partiam para o ataque, dando tempo para os dinamarqueses se reorganizarem. Com o tempo, os nossos adversários foram ganhando confiança. Felizmente, por uma vez, o poste esteve do nosso lado ao travar a jogada de maior perigo para a nossa baliza. Foi um alívio quando chegou o intervalo.


Devo dizer que este foi um dos poucos encontros dos últimos tempos em que a Sorte nos favoreceu. Não só o poste travou um remate contra nós, quando nove em cada dez bolas ao poste em jogos da Seleção costumam ser remates nossos, mas o árbitro também foi nosso amigo (isso pode já não ser por acaso) e até a bolada que o infeliz Boilesen jogou a nosso favor na medida em que nos deu tempo suficiente para marcarmos. Teria sido muito mau desperdiçar esta oportunidade. E ainda bem que não o fizemos. Mas já aí vamos. 

Na segunda parte, manteve-se o mesmo jogo bipartido, ainda mais lento, quase até ao final. A partir de certa altura, já estava, à semelhança de muito boa gente, resignada com o empate. Fazia literalmente contas à nossa vida: não era assim tão mau. Afinal, já tínhamos estado várias vezes naquela situação e não tínhamos deixado de nos Qualificar para a fase final seguinte. Sabíamos que muitas coisas não estavam bem na Seleção e não era com uma troca de Selecionadores que íamos solucionar tudo. E afinal de contas, não estaríamos sozinhos na nossa infelicidade: a Holanda tinha perdido com a Islândia na véspera, a Alemanha (a Alemanha!) tinha perdido com a Polónia (inserir piada relacionando esta derrota com a Segunda Guerra Mundial) e empataria com a República da Irlanda, dando aos adeptos irlandeses mais razões para gozarem com a chanceler alemã. Claro que sabia que ainda era possível, mas sinceramente não via sinais favoráveis a isso.

E, pela enésima vez, a Seleção Nacional apanhou-me de surpresa. Desta feita, foi aos noventa e cinco minutos, numa jogada construída por Ricardo Quaresma e (quem havia de ser?) Cristiano Ronaldo. Gritei "GOLO!" como uma menina - ando a descobrir que, quando são golos dramáticos como este, quase atinjo a gama dos ultrassons - e passei os minutos seguintes, mesmo depois do fim do jogo, meio a rir meio a chorar, incrédula com o que acabara de acontecer. É paradoxal a maneira como passo a vida a escrever aqui no blogue que vale sempre a pena acreditar na Seleção em qualquer circunstância, até ao último segundo, pois esta, mais cedo ou mais tarde, recompensa-nos para, quando as minhas próprias profecias se cumprem, ser sempre apanhada de surpresa. De uma maneira tipicamente humana, sou incapaz de seguir os meus próprios conselhos.



Mas já aí vamos. No rescaldo deste jogo, destacaram-se as declarações de "amor" trocadas entre Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma. "Já tinha saudades de jogar com o Quaresma." "Também tinha saudades de jogar com o Ronaldo". Para mim, que me recordo de vê-los juntos no Sporting, declarações como esta deixam-me particularmente feliz e nostálgica. Devo até dizer que o papel que Quaresma desempenhou nesta dupla jornada me surpreendeu. Eu já não contava com ele para ser decisivo na Seleção - achei que estava num melhor momento em alturas do Mundial, o treinador do FC Porto teima em não usá-lo com frequência. Depositava maiores esperanças no Nani, que depois de ter andado perdido durante dois anos, reencontrou-se no Sporting. Toda a gente sabe que o Quaresma podia ter sido um dos melhores do Mundo (chegou a ser considerado mais promissor que Ronaldo), não o foi por falta de sorte e de juízo. A teimosia de certos Selecionadores foi-lhe um obstáculo mas também teve várias oportunidades na Seleção, sem nunca se conseguir impor. Contudo, ao que parece, ainda tem algo para dar à Equipa de Todos Nós. Não acho que mereça roubar a titularidade ao Nani, ainda, mas é sempre bom termos esta competição saudável na Equipa das Quinas.

Não posso, também, deixar de referir Tiago e, sobretudo, Ricardo Carvalho, que tiveram bons desempenhos nesta dupla jornada. Destaque para o último, que fez uma exibição impecável frente à Dinamarca. Pode-se dizer que, até agora, estão a fazer bom uso da oportunidade que lhes foi concedida. Sejam bem-vindos de volta!

Fernando Santos classificou esta vitória de "justíssima", mas eu não concordo. Pelo que vi do jogo, o empate seria o resultado mais adequado. No entanto, já estivemos demasiadas vezes do outro lado. E se formos a ver, no futebol ganha quem marca mais e sofre menos; por essa perspetiva, não se pode dizer que uma equipa que não consegue marcar golos mereça ganhar, por mais bonito que seja o seu futebol, por mais posse de bola que tenha tido, por mais remates que tenha feito.  Esta nossa vitória serve sobretudo para amealharmos três pontos muitos preciosos (depois dos incidentes no jogo entre a Sérvia e a Albânia, não sei em que ficamos em termos de classificação) e também para dar moral para o resto do Apuramento.


É esse último aspeto que, para mim, é o mais importante: recuperarmos a esperança com a chegada de Fernando Santos e o seu trabalho nesta jornada dupla de Seleção. Depois do jogo com a Albânia, eu estava mais ou menos conformada com a ideia de que, a curto prazo,  faríamos uma travessia no deserto, com apenas Ronaldo e pouco mais puxando a equipa para a frente. Também sabia que a troca de Selecionador não iria, milagrosamente, colocar a equipa a funcionar na perfeição (embora tenha sido quase milagroso o que Paulo Bento fez nos seus primeiros tempos como Selecionador). No entanto, Fernando Santos conseguiu pôr a Seleção a jogar bem de novo, mesmo com aquilo que muitos consideram uma fraca base de recrutamento e quando o fracasso do Mundial ainda está fresco na memória.

Fernando Santos deu-me, aliás, a impressão de ser um treinador inteligente, capaz de interpretar o jogo e corrigir as falhas - não será por acaso que os golos portugueses desta dupla jornada tenham partido, parcial ou totalmente, do banco. O que me deixa receosa em relação aos jogos em que ele estiver de castigo (a decisão final deverá ser anunciada até finais de novembro). Tirando isso, penso que todos concordam que (perdoem-me a frase feita) Fernando Santos é o homem certo no lugar certo, que colocou a Seleção de novo no caminho certo. Fica a ideia de que o bom período do futebol português, que começou com o Euro 2000, ainda não terminou e, tendo em conta o desempenho dos sub-21, é possível que tão cedo não termine. No fundo, Fernando Santos fez o mesmo que Paulo Bento fez em 2010, se bem que desta feita não tão ostensivamente: devolveu-nos a esperança. Tal como anteriormente, pode não ser muito, mas é o suficiente para continuarmos a acreditar.


Fica aqui desde já a minha gratidão a Fernando Santos por este primeiro feito como Selecionador. No entanto, tal como afirmou Fernando Gomes, ainda não se conquistou nada a não ser três pontos. Isto foi apenas o primeiro passo. A Qualificação encontra-se perfeitamente ao nosso alcance, mesmo até em primeiro lugar, desde que não descarrilemos de novo. Por outro lado, com o que aconteceu com a Sérvia e a Albânia, houve quem falasse em oferecer de imediato a Qualificação a Portugal, Dinamarca e Arménia em jeito de castigo. Eu detesto essa ideia, receber o Apuramento de bandeja, lutando apenas para não ir a playoffs. Depois desta nossa mini-ressurreição, seria no mínimo anticlimático. Sobre que escreverei eu no blogue se, de repente, todos os obstáculos (ou quase todos) na corrida para a Qualificação desaparecerem?
Se ao longo dos próximos dose meses todos os jogos forem pouco mais importantes que encontros particulares? As últimas Qualificações souberam a triunfo porque foram conquistadas a custo, depois de, em diferentes alturas, se chegar a dar o Apuramento como perdido. Quero voltar a sentir o mesmo dentro de sensivelmente um ano se/quando (escolham vocês) conquistarmos um lugar no Europeu de 2016.

E eu acredito que o faremos. De uma maneira ou de outra. 

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